Luís Brás – Esta
entrevista tem o mote da carta que escreveu a Sua Santidade o Papa pedindo um
pensamento sobre a criação de um Conselho das Religiões e esse pensamento tem
várias nuances no mundo de hoje. Começava por lhe pedir uma opinião sobre o
estado do mundo atual. Isto é, depois da criação de uma plataforma digital que
uniu o mundo, se essa união em vez de aproximar as pessoas, as religiões, as
diferentes congregações mundiais de vários tipos de religião e união social, se
não fez antes criar maiores divisões seculares e religiosas e contribuiu para
alimentar um certo tipo de guerras?
O resultado foi que entre esses ocidentais,
e decorrente tal resultado do facto de antes de começar a guerra a hierarquia
das potências estar esclarecida pelos factos, apareceram, numa carta que diz
que todos os estados são iguais, os cinco estados mais iguais que foram os que
ficaram com direito de veto, entre eles a França e a Inglaterra. Simplesmente, na
hierarquia posterior à Guerra, que trouxe tanta destruição e ao mesmo tempo
implicou que os ocidentais perdessem a hegemonia, que lhes dava os domínios das
matérias-primas e dos mercados dos produtos acabados e a liberdade de
estabelecer níveis de salários abaixo das exigências da dignidade humana,
começaram a ver não apenas nascer as novas potências que vêm desses países, do
ponto de vista económico, como a ter que lutar com as novas circunstâncias,
porque lhes faltou a partir dali, da descolonização, essa proeminência que
tinham antigamente.
Isto está a ser compensado pelos
movimentos da regionalização, quer dizer os países juntam-se para aparecerem
perante a globalização numa posição que antigamente era procurada com a
soberania própria. A União Europeia é hoje o exemplo mais acabado dessa busca
pela regionalização. O modelo também está em formação na América Latina e
também em formação no oriente. Simplesmente uma regionalização precisa de
conceito estratégico específico, tal como os países, e a União Europeia até
hoje não definiu o seu conceito estratégico e, estamos a viver nesta
contradição. É que têm direito do veto duas potências europeias, cada uma das
quais não tem capacidade estratégica para ter esse privilégio. Esta situação
implicou naturalmente em muitos aspectos conflitos graves que estão aparecer. E
eu tenho resumido esses conflitos, tendo como caraterística principal, o
conflito entre a memória e a lei. E dou exemplos: A primeira guerra mundial terminou
com a eliminação dos impérios europeus continentais, que era o império
germânico, o Austro-Húngaro, o Russo e até o Turco. A segunda guerra mundial
terminou com o fim dos impérios coloniais, com custos humanos extraordinários
para cada uma das potências coloniais e dos povos que se revoltaram. Esse facto
implicou o reavivar do conflito entre as memórias e os tratados. E assim, por
exemplo a Alemanha esquece-se que foi titular de um império? Isso não ajuda ao
papel directório que tem progressivamente assumido, impedindo a formação do
conceito estratégico europeu? Julgo que este facto tem tido importância. Ponho
isso como hipótese. Mas também chamo atenção para o discurso do Presidente da Rússia
e a intervenção que fez na Ucrânia. A Europa quis que a Ucrânia entrasse para a
União Europeia, esquecendo-se que a memória imperial da Rússia sempre teve
aquela região como elemento fundamental. E o presidente da Rússia fez um
discurso, e eu até tive uma aula na Universidade Católica onde os estudantes me
pediram para fazer uma aula sobre o discurso, eu disse: sobre o discurso não
vale a pena, vale pena sobre o retrato, aquele retrato publicado que trazia o
presidente a fazer o discurso rodeado de generais solenemente fardados e
medalhados. A mensagem estava no retrato e o que ele afirmou é que a sua
fronteira de interesses era mais vasta que a fronteira geográfica, e as
consequências estão a ver-se.
Vou amanhã a Coimbra fazer uma
conferência sobre situação europeia e a minha pergunta principal é esta: A
Europa está em paz ou está em guerra? Depois da declaração do estado Islâmico
do Iraque e do Levante, esta é a pergunta fundamental. O confronto entre as
unidades culturais está a ser anárquico e porquê? Porque a criação da
regionalização europeia foi feita de fronteiras abertas, promoveu as imigrações
com a imagem que os factos vão desvanecendo de que é uma região rica e em
crescimento quando neste momento está a enfrentar uma crise extraordinária. O
resultado é que esse movimento tem transformado o mediterrâneo num cemitério,
esse cemitério tem na base o desenvolvimento de atividades criminosas,
designadamente as empresas que promovem os transportes nas condições precárias
que todos estamos a verificar e isto ao mesmo tempo que os movimentos de
insatisfação das populações estão a derrubar os governos ou a perturbar a paz social,
invocando a democracia, com o tal problema das palavras terem um sentido
diferente consoante os lugares onde são utilizadas e a criar uma região, uma
área vastíssima de instabilidade onde um estado assume - um estado, quer dizer
um autoproclamado estado, que é o estado Islâmico, acaba de proclamar que tem
como o objetivo destruir a nossa Roma e os símbolos religiosos ocidentais.
E aqui vem o problema da importância
das religiões. Nós temos uma espécie de testamento intelectual de Malraux. Foi um homem que teve uma vida muito dedicada
aos direitos dos povos e à legitimação das revoltas e participando mesmo na
ação, ele esteve nas revoltas do oriente, ele tomou parte na revolução
espanhola contra o Franco, depois foi ministro do De Gaulle, deixou um livro
lindíssimo chamado “Quando as catedrais eram brancas” e esse homem deixou esta
afirmação: “o séc. XXI ou será religioso ou não será!”. O que significava que
ou as religiões se põem de acordo ou haverá guerras confrontando áreas
culturais com paradigma religioso diferente e que sacraliza a intervenção da
força - foi o caso do terrorismo, que incluiu valores religiosos no seu
conceito estratégico e é o que está a acontecer com o estado Islâmico que invoca
o Alcorão a justificar as ações violentíssimas que está a praticar. E foi por
isso, que se multiplicaram movimentos e o primeiro com grande significado foi o
de Assis, ainda com o Papa João Paulo II, de encontro das religiões e eu ainda
assisti uma dessas missas colectivas com assistência de representantes de todas
as religiões, em Assis. E está convocado, pelo Vaticano, um encontro numa
região oriental, de encontro das religiões.
Ora, justamente a minha proposta, isto
é a coisa mais importante da entrevista que estamos a ter, é que não são
reuniões ocasionais que a situação está a exigir. Está a exigir um organismo
onde as religiões tenham um diálogo permanente e a voz permanente, desde que
coincidente nas conclusões, seja ouvida. Em segundo lugar são as Nações Unidas,
porque as Nações Unidas que foram a expressão do grande sonho alimentado pelos
pacifistas ao longo dos tempos, apesar de uma intervenção muito humanitária e
generosa, em questões de pobreza, em questões do desenvolvimento em questões
das diferenças culturais etc., as Nações Unidas estão a ser bastante
esquecidas. Nós estamos numa crise económica mundial e ninguém convocou o
conselho económico e social, o que é extraordinário, porque a função do
conselho económico e social é estudar estas questões e fazer recomendações,
designadamente ao conselho de segurança quando for necessário e nunca foi
convocado. Aliás, há outros casos, que é o caso, por exemplo, da situação de trabalho
com descida de salários em toda a parte. Há um organismo encarregado disso,
chama-se BIT, ninguém convocou BIT até hoje, estes organismos estão a ser
esquecidos. Ora, nas Nações Unidas há uma tradição, espero que ainda seja
mantida, que se traduziu num dos primeiros Secretários gerais notabilíssimo, o
senhor Hammarskjold, que constituiu uma
sala, organizou uma sala muito simples, despida de ornamentação, só os lugares,
bancos vulgares, tendo ao meio uma espécie de altar com uma pedra translúcida
com uma luz que desce do teto sobre essa pedra, e chama-se sala de meditação
para todas as religiões.
A ideia que me surgiu disso foi na
celebração do centenário da democracia cristã, em Coimbra, eu fiz a proposta,
propus que fosse feita a proposta da organização do conselho permanente das
religiões nas Nações Unidas, conselho esse que realizaria a resposta aquele
vaticínio de Maraux, o “século XXI ou será religioso ou não será”. Esperemos
que seja, daí a proposta.
Luís Brás – Em que
medida é que contribuiria a criação do conselho das religiões para a paz no
mundo ou pelo menos em que medida contribuiria mais do que o próprio conselho
de segurança das Nações Unidas?
Não se trata primeiro de contribuir
mais, mas trata-se de tentar eliminar os motivos de conflito da diferença de
valores religiosos. Porque eu creio que há hoje duas ameaças a aumentar a crueldade
na terra: Uma, a criação de instrumentos de combate, designadamente aviões sem
tripulação, procurando reduzir (a
expressão técnica que usam) a zero as
perdas de quem tenha o poder dominante. Eu devo dizer-vos que uma das razões
que torna as guerras, todas as guerras,… (acompanhadas por um dramatismo que se
mantém para além do fim das guerras), é que a visão do adversário que é
agredido e morto nunca mais se apaga da memória
de quem o faz. A utilização de armas não tripuladas, eu julgo que vai aumentar
crueldade das guerras. Já é suficiente que hoje estejam, pelo menos segundo as estatísticas,
trezentas mil crianças a participarem em combates, e não são elas que compram
as armas, e portanto alguém as paga e os complexos industriais militares estão
a tirar o proveito.
A outra razão do aumento da crueldade
tem sido a inclusão de motivos religiosos nos conceitos estratégicos. A
primeira grande demonstração, embora tivesse havido outras, foi o derrube das
torres em Nova York e a falta de necessidade de exércitos. Bastaram uns
pequenos grupos e continuam a bastar uns pequenos grupos para provocar
destruições tremendas, como se viu e por consequência, é o urgente que os
conflitos não tenham elementos e valores religiosos nos seus conceitos
estratégicos. E como a maior parte das áreas culturais que professam religiões
monoteístas têm valores que são coincidentes, o grande problema é encontrar o
denominador comum. É a isso que se tem dedicado o professor alemão Kung e é
certamente o problema ou questão que pode unificar um conselho de religiões
monoteístas, e seria um grande serviço para a humanidade e para diminuir, desde
que não possam desaparecer, as guerras, porque hoje nós vivemos numa época de
guerra em toda a parte. Já que não podemos eliminar esse flagelo, que se
diminua a crueldade com exclusão dos motivos religiosos no conceito estratégico
das guerras. O Conselho teria essa função.
Luís Brás – Voltando
a Malraux, ele disse: se compreendêssemos, nunca mais poderíamos julgar. É a
compreensão que se pretende ou apenas um diálogo inicial?
É a compreensão, é evidente.
Nós também tivemos, no passado, a
introdução de elementos religiosos na expansão colonial e as consequências
foram terríveis. Nós não podemos ignorar que tivemos a escravidão, que tivemos o
transporte que foi pior que a escravidão, tivemos a inquisição, tivemos
expulsão de povos como os judeus. Mas nós não recebemos a nossa cultura e as
nossas pátrias a benefício de inventário. Temos que aceitar o passado, como foi,
e louvar a emergência que tenha realizado valores, é isso que se procura, é
isso que se procura! E portanto, o encontro permanente das religiões com um
denominador ou paradigma comum que é obter a paz e segundo, eliminar motivos
religiosos que agravam a crueldade de combates, como se tem visto, é, a meu
ver, uma contribuição importantíssima para a paz e, quando não for a paz, para
a diminuição da crueldade no combate como tem acontecido, a ideia é esta.
Luís Brás – É um
optimista?
Eu tenho esperança, e isso também tem a
ver com os motivos religiosos, eu sou católico. A esperança é última que acaba e
que acaba quando já não é necessária.
Alfredo Alexandre Costa – O que falhou no processo da descolonização de
alguns países que vimos que até hoje ainda estão em conflito desde a
descolonização?
A criação dos estados (para simplificar
e tornar mais acessível a leitura de qualquer resposta), a criação de estados em
regra antecedeu a criação de nações e mesmo Portugal é um exemplo. Nós dizemos
que somos portugueses mas somos uma mistura de nativos, romanos, alanos,
vândalos, suevos, visigóticos, muçulmanos, africanos, e vêm aqui a dizer que
somos portugueses, mas isto levou séculos. Por isso se diz, foi um grande
conceito de Lord Acton que escreveu um livro sobre “Ensaios Sobre a Liberdade”
foi já no séc. XIX dizendo isto: “Em geral, não são as nações que dão origem
aos estados, são os estados que dão origem às nações”. E eu sempre me lembro de
um quadro de uma pintora moçambicana que eu conheci, que não se chamava
libertem a minha nação, chamava-se deixem passar o meu povo. O povo era todo o
povo da colónia de Moçambique.
Como leva muito tempo a constituir uma nação,
essas antigas colónias não correspondem às nações como regra, nem os ocidentais
deixaram verdadeiramente recordações democráticas. Porque o regime colonial,
mesmo quando era democrático na origem, não o era no governo das colónias.
Chamasse-se o governador: governador, vice-rei, alto-comissário, tinha os
poderes todos, não tinha divisão de poderes como é no poder democrático. E
portanto, é necessário um grande humanismo para desafiar um processo, desfiar
um processo, que venha dar origem a uma nação. Como essas nações de facto levam
tempo a criar, há muitos territórios (e em áfrica isso é evidente) em que os
conflitos internos surgem, porque as chefias tradicionais não são dessa
natureza de nações e vai levar tempo. E isso, pode ser ajudado pelas organizações
internacionais. Designadamente as nações unidas, que fazem um grande empenho em
tornar acessíveis, em convivências respeitosas, as culturas diferentes, até têm
um comissário para esse efeito. E eu costumo resumir isto desta maneira: Eu não
tenho que cultivar tolerância pelas culturas diferentes, tenho que cultivar o
respeito pelas culturas diferentes. É diferente da tolerância. Eu só preciso
ser tolerante para as coisas de que não gosto, para as outras não tenho que ser
tolerante. Tolerância tem que ser substituída, tem que ser ultrapassada essa
ideia pelo respeito. Em segundo lugar, porque leva tempo a implantar, o
conselho das religiões pode conseguir ajudar seguramente nesse sentido, é
necessário substituir o combate pelo diálogo. Em terceiro lugar é necessário
aprender de que quando entram em conflito direitos com exigência de igual
dignidade, cada um deve ceder o necessário para que possam subsistir ambos,
isto era uma regra do código civil de Seabra, português. Estas três coisas são
fundamentais. E como as culturas têm grande componente de valor religioso, nós
temos que reconhecer isso e procurar que, estabelecido o respeito, a
colaboração possa conseguir que ou a paz ou pelo menos a eliminação ou
diminuição da crueldade sejam objectivos atingidos. Isso e a anulação dos
factores religiosos nos conceitos estratégicos políticos que se combatem. É
isto.
Alfredo Alexandre Costa – O que deve fazer a ONU para acabar com a
gratuitidade do suicídio involuntário no mediterrâneo?
Eu aí suponho que em primeiro lugar há uma atividade criminosa que tem de ser assumido que é criminosa: não pode omitir-se que o transporte daquelas multidões em meios de comunicação que são frágeis, que não resistem à natureza e que implica a morte de gente que sacrificou todos os haveres que tinha para adquirir uma vida digna, que tem na base uma criminalidade que exige acordo dos países para ser reprimida.
Em segundo lugar, é preciso cada vez
mais ser autêntico nas imagens que se invocam dos países. Naturalmente a
emigração é muito determinada por motivos económicos, isso é evidente. Nós
próprios na Europa sabemos isso. Os países do sul da Europa, que representam o
antigo Império Romano, se reparamos nisso, hoje estão a assistir a uma
emigração enorme de gente porque a pobreza os empurra para a emigração e quando
as pessoas emigram procuram lugares que pela sua imagem lhes transmita a
esperança de uma vida melhor. A imagem de uma Europa rica que tem lugar para
essas emigrações é uma imagem que já não é a realidade porque o desemprego é
brutal e portanto, é necessário que a propaganda da imagem seja a propaganda da
imagem da realidade e não uma imagem mentirosa que atrai como se fosse o
paraíso por um caminho que é para o purgatório - é o que está a acontecer. A
autenticidade é fundamental nisto e não é o que está a acontecer com todas as
propagandas que enganam. Mas essa propaganda enganosa tem na base uma
exploração criminosa e evidente nesta matéria das emigrações. Depois isso tem
consequências enormes que é o seguinte: é que os grupos de emigrantes que se
formam não são comunidades, porque não nasceu o sentimento de unidade sequer, a
comunidade de afetos que faz uma comunidade. São multidões e isso não serve a
integração nem serve uma boa ordem que respeite a dignidade de todos, o que
leva portanto aqueles conflitos internos que se estão infelizmente a
multiplicar e até na Europa, como sabe, e até nos Estados Unidos.
Pelos últimos acontecimentos estamos a
ver que os chamados mitos raciais estão a renascer e esses mitos raciais
animaram muito a Segunda Guerra Mundial, são mitos que nós estudámos
profundamente e conhecemos profundamente e achámos que tínhamos conseguido
eliminar e eles estão hoje a renascer. É o mito do negro, o mito do mestiço, o
mito do ariano e o mito do judeu e isto, pensávamos nós, depois da mortandade e
destruições da última guerra mundial, podia ser aniquilado pela igualdade das
condições, mas está a renascer e ao que parece em mais que um sítio, em toda a
África, do Cabo ao Cairo, é verdade. E eu, não gosto de ler as notícias diárias
dos mitos religiosos nos Estados Unidos neste momento, não as acho
satisfatórias. O Conselho de Religiões pode ajudar nisto.
Alfredo Alexandre Costa – Como o Professor explicou que quando os
ocidentais criaram a Declaração Universal dos Direitos Humanos, fizeram-na um
modelo ocidental. E se redefinirem e criarem um novo Conselho, vão criar uma
nova Declaração Universal, considerando todos os pontos do mundo, o modelo
asiático, o modelo americano bem como modelo europeu?
Não: as palavras podem ser as mesmas. O
que nós reconhecemos é que é a mesma palavra cobre realidades diferentes. Toda
a revolta dos países árabes contra os regimes antigos autoritários invoca a
democracia, não estão a dizer a mesma coisa que diz a América ou que diz a
França ou que diz Portugal. Não é isso. Estão a usar a mesma palavra. Aquilo
que nós precisamos primeiro é encontrar denominadores comuns. Quando nós
dizemos que todos os homens têm a mesma dignidade, é preciso assegurar que esse
denominador comum é respeitado. Porque ter a mesma dignidade não é incompatível
com ter culturas diferenciadas; o ter mesma dignidade não tem nada que ver com
a cor com que as pessoas nascem e portanto a busca desse denominador comum,
incluindo a dignidade da pessoa humana, é que é fundamental. Não é preciso
alterar nada na Carta de Direitos.
Eu tenho um conceito para resumir isto,
é que cada homem é um fenómeno que não se repete na história da humanidade. O
seu fenómeno nunca mais se repete. O meu nunca mais se repete. Nós só temos uma
oportunidade e isso é o grande valor de cada pessoa: é um caso único na
história da humanidade, cada um, seja qual for a cor, seja qual for a etnia,
seja qual for a região em que nasceu, é um fenómeno único na história da
humanidade e daí resulta o seu valor que não pode ser violado. O princípio da
dignidade humana, é isto.