terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Quem era Fafali Koudawo? - Um amigo testemunha!

Fafali Koudawo foi o grande promotor do projeto de Jornalismo de Paz na Guiné Bissau. Recordo com saudade a sua imagem, a sua simpatia e o seu apoio constante. Fui-lhe apresentado pelo diretor da Rádio Sol Mansi, em Bissau.  Em 2006. Num primeiro momento, a medo, transmiti-lhe uma ideia da Fundação Pro Dignitate: criar um treino para jornalistas de rádio que fosse um instrumento promotor da Paz e do Desenvolvimento no espaço lusófono. A rádio continua/rá  a ser uma constante nas vida das comunidades africanas, especialmente rurais e sem “municiamento” das televisões, dos jornais e da  rede de informação digital. Ouviu-me quase uma hora, de olhos semicerrados, sem uma reação facial;  o  calor pesava na varanda, a minha boca estava ressequida e eu não percebia se a mensagem estava a passar.  Súbito abre os olhos e  sorri com um sorriso enorme e diz: “avancemos”para rádios positivas!” E não foi só com a rádio amanhecer (SolMansi), porque o projeto alargou-se às 30 rádios comunitárias que integravam a rede que ele e a sua equipa criara com o projeto “Voz di Paz”.

Desde 2006, este projeto teve sempre o  apoio e a participação interessada de  nomes como o de Fafali, Filomena Tipoti, Faustino Imbali, Bispo José Kamnate   e tantos outros  insignes cidadãos preocupados com a realidade da situação na Guiné-Bissau. Alguns quadros  do INDEP também estavam presente assim como  Makaria Barai e Lucinda Barbosa. A rede de  conhecimentos internacionais  de Fafali Kudao garantiu sempre , através da  rádio Sol Mansi a continuidade do projeto rádios de Paz. Assim foi até 2014.

As relações de amizade que fez o favor de manter comigo ajudaram-me muito a crescer. A sua cultura, o seu conhecimento da Guiné, da realidade africana em geral foram uma escola para todos os que o conheceram. Passámos muitas horas juntos, entre Mansoa e Bissau. Contava-lhe os meus dissabores, as minhas raivas , as minhas incompreensões. Ele também tinha as suas dificuldades, os seus desgostos, as invejas e incompreensões. Apesar de ser um profundo conhecedor da cultura bíblica, lembro-me que ficou encantado pela transposição que fiz para o jornalismo da expressão bíblica : “sede simples e crédulos como a pomba e astutos como a serpente”. Quando nos víamos, fosse em Lisboa ou em Bissau, a propósito das nossas experiencias de vida, lá repetíamos a frase “não estou a ser astuto” ou “fui simples de mais”.

Fafali deixa uma mágoa em todos nós que o conhecemos. E Fico com um desgosto: que nenhum dos meus e seus alunos guineenses me tivesse informado da morte do Professor; que o tenha descoberto pela frigidez do texto de um jornal.



António Pacheco