Fafali Koudawo foi o grande promotor do projeto de Jornalismo de
Paz na Guiné Bissau. Recordo com saudade a sua imagem, a sua simpatia e o seu
apoio constante. Fui-lhe apresentado pelo diretor da Rádio Sol Mansi, em
Bissau. Em 2006. Num primeiro momento, a medo, transmiti-lhe uma ideia da
Fundação Pro Dignitate: criar um treino para jornalistas de rádio que fosse um
instrumento promotor da Paz e do Desenvolvimento no espaço lusófono. A rádio
continua/rá a ser uma constante nas vida das comunidades africanas,
especialmente rurais e sem “municiamento” das televisões, dos jornais e
da rede de informação digital. Ouviu-me quase uma hora, de olhos
semicerrados, sem uma reação facial; o calor pesava na varanda, a
minha boca estava ressequida e eu não percebia se a mensagem estava a
passar. Súbito abre os olhos e sorri com um sorriso enorme e diz:
“avancemos”para rádios positivas!” E não foi só com a rádio amanhecer
(SolMansi), porque o projeto alargou-se às 30 rádios comunitárias que
integravam a rede que ele e a sua equipa criara com o projeto “Voz di Paz”.
Desde 2006, este projeto teve sempre o apoio e a
participação interessada de nomes como o de Fafali, Filomena Tipoti,
Faustino Imbali, Bispo José Kamnate e tantos outros insignes
cidadãos preocupados com a realidade da situação na Guiné-Bissau. Alguns
quadros do INDEP também estavam presente assim como Makaria Barai e
Lucinda Barbosa. A rede de conhecimentos internacionais de Fafali
Kudao garantiu sempre , através da rádio Sol Mansi a continuidade do
projeto rádios de Paz. Assim foi até 2014.
As relações de amizade que fez o favor de manter comigo
ajudaram-me muito a crescer. A sua cultura, o seu conhecimento da Guiné, da
realidade africana em geral foram uma escola para todos os que o conheceram.
Passámos muitas horas juntos, entre Mansoa e Bissau. Contava-lhe os meus
dissabores, as minhas raivas , as minhas incompreensões. Ele também tinha as
suas dificuldades, os seus desgostos, as invejas e incompreensões. Apesar de
ser um profundo conhecedor da cultura bíblica, lembro-me que ficou encantado
pela transposição que fiz para o jornalismo da expressão bíblica : “sede
simples e crédulos como a pomba e astutos como a serpente”. Quando nos víamos,
fosse em Lisboa ou em Bissau, a propósito das nossas experiencias de vida, lá
repetíamos a frase “não estou a ser astuto” ou “fui simples de mais”.
Fafali deixa uma mágoa em todos nós que o conhecemos. E Fico
com um desgosto: que nenhum dos meus e seus alunos guineenses me tivesse
informado da morte do Professor; que o tenha descoberto pela frigidez do texto
de um jornal.
António
Pacheco